Coisas que não podemos esquecer :O cristianismo verdadeiramente cristão
Em uma certa madrugada, resolvi reler, em oração, Hebreus 13 nas
versões Almeida Revista e Atualizada (ARA) e Almeida Revista e Corrigida
(ARC), minhas versões preferidas em língua portuguesa — não é sempre
que faço isso, pois prefiro as manhãs para meditar. Meu objetivo não era
fazer uma exegese do texto, e sim uma leitura devocional, em meditação.
Se fizermos uma análise versículo por versículo, frase por frase,
palavra por palavra, de Hebreus 13, teremos, sem exagero, uma manancial,
um tesouro, à nossa disposição. Arrisco-me a dizer que esse único
capítulo é o suficiente para a preparação de um livro contendo, pelo
menos, dez mensagens repletas de lições para a vida cristã com muitos
pormenores. Mas, neste artigo, gostaria apenas de apresentar uma
reflexão a respeito de seis coisas que os seguidores do cristianismo
verdadeiramente cristão não podem esquecer ou ignorar — e todas elas
estão em Hebreus 13.
HOSPITALIDADE (v.2)
O autor de Hebreus assevera que não devemos nos esquecer da
hospitalidade. E ele menciona uma razão para fazermos isso: “alguns,
praticando-a, sem o saber acolheram anjos” (ARA). Pense no que significa
ser hospitaleiro. Tratar bem os amigos é fácil. E, quando temos de ser
hospitaleiros com quem não conhecemos ou com os inimigos? Sofremos, ao
fazer isso. No entanto, Deus muitas vezes usa esse tipo de circunstância
para nos abençoar. Não foi isso que aconteceu com a viúva que ajudou
Elias? E o que dizer do personagem bíblico mais famoso do momento,
Zaqueu? Já imaginou se ele dissesse a Jesus: “Na minha casa, não! Minha
mulher não vai gostar de receber uma visita inesperada”?
PRESOS (v.3)
Sejamos sinceros: Qual cristão, incluindo eu e você, caro leitor,
costuma se lembrar dos presos, dos encarcerados? Aliás, quando eu me
lembro de alguns presos “famosos” (na verdade, afamados), não lhes
desejo, no meu íntimo, boas coisas. Mas o texto bíblico de Hebreus 13
diz: “Lembrai-vos dos encarcerados, como se presos com eles” (ARA). Meu
Deus, que difícil recomendação da sua Palavra! Como eu preciso melhorar!
MALTRATADOS (v.3)
A versão de Revista e Corrigida de Almeida (ARC) diz “Lembrai-vos
dos... maltratados”, e a Revista e Atualizada (ARA): “Lembrai-vos... dos
que sofrem maus tratos”. E acrescenta: “como se, com efeito, vós mesmos
em pessoa fôsseis os maltratados”. Gostamos de lembrar apenas de coisas
boas, que nos trazem satisfação. Ninguém gosta de lembrar, por exemplo,
de um morador de rua, maltratado pela vida ou pelas más escolhas que
fez. Os espíritas dizem: “Ele está sofrendo, mas é o seu karma”. E
alguns evangélicos, conquanto iluminados pelo Espírito, se dão ao luxo
de afirmar, sem nenhuma compaixão: “Deus sabe por que esse homem está
sofrendo; trata-se de um miserável pecador, um vaso da ira”. Ah, como o
nosso cristianismo seria realmente cristão se aprendêssemos a ser “bons
samaritanos”!
PASTORES (v.7)
Nunca os pastores foram tão desrespeitados. Hoje, ser pastor não
significa muita coisa. É claro que há falsos obreiros, aos quais convém
mesmo “tapar a boca” ou refutar segundo a Bíblia (Tt 1.10,11). Mas não
são muitos os cristãos que atentam para a seguinte recomendação:
“Lembrai-vos dos vossos pastores, que vos falaram a palavra de Deus, a
fé dos quais imitai, atentando para a sua maneira de viver” (ARC). Esse
respeito aos pastores (“guias”, ARA) não é por causa do título que eles
possuem, e sim porque foram chamados e ungidos pelo Senhor. E quem se
levanta contra eles — no caso dos verdadeiros, é claro — está se
levantando contra quem?
BENEFICÊNCIA (v.16)
O texto diz: “E não vos esqueçais da beneficência” (ARC). Beneficência é
o amor em ação; é a prática do bem. Afinal, o amor só é amor quando em
ação. Se alguém diz “Eu amo a Palavra”, mas nunca medita nela, que tipo
de amor é esse? Por isso, o salmista, ao falar do seu amor para com a
Lei do Senhor, afirmou que ela era a sua meditação em todo o dia (Sl
119.97). E o que dizer do amor a Deus e ao próximo? E o que dizer do
amor aos inimigos? A Bíblia não diz que devemos fazer bem a todos? Essa
última pergunta é retórica; traz em si mesma a resposta de que devemos
amar e fazer o bem (amor em ação) até aos nossos inimigos (Rm 12.20).
Estamos dispostos a isso? Ou queremos vê-los arrasados, prostrados,
enquanto cantamos: “Tem sabor de mel, tem sabor de mel, a minha vitória
hoje tem sabor de mel”?
COMUNICAÇÃO (v.16)
“Não negligencieis igualmente... a mútua cooperação” (ARA), diz o autor
de Hebreus. E acrescenta que Deus se compraz com esse tipo de
sacrifício. Ser um cooperador, um ajudador, alguém que comunica alguma
coisa a alguém, seja um dom espiritual, seja uma ajuda material,
significa se sacrificar pelo próximo! Mas, quem hoje está disposto a
sofrer, a se sacrificar, por alguém que não seja um parente, como
filhos, netos, esposa, pais? Enfim, correr atrás de trio elétrico
dizendo que está evangelizando os foliões é fácil.
Escrever belos textos, pelos quais expomos o nosso pensamento e
refutamos isso e aquilo, também não é tão difícil. Mas, e viver o
cristianismo verdadeiro, o cristianismo realmente cristão, que não se
esquece da hospitalidade, dos encarcerados, dos maltratados, dos
pastores, da beneficência e da mútua cooperação?
Lamento, mas o cristianismo realmente cristão é para quem deseja ter a
Bíblia como a sua regra de fé, de prática e de vida. E é isso que eu
desejo, embora reconheça, humildemente, que ainda não o tenha alcançado
plenamente...
Em Cristo,
Ciro Sanches Zibordi
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